terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Peter, ah, meu querido Peter.



3 de julho de 2006, Paris, França.

Querido Peter,

Escrevo-lhe, marejando de lágrimas essa folha retirada de um caderno velho – aquele cheio de flores azuis, que por sinal, ganhei de você, como presente de aniversário do ano passado –, para dizer que estou com saudade.
Desculpe-me. Desculpe-me por não enviar notícias e nem porquês. Por favor, desculpe-me por não lhe avisar. Sei que você deve ter pensado que cansei de você e fugi para bem longe. Claro que você está enganado. Bom, a parte do longe não deixa de ser mentira, afinal, nesse exato momento estou a um mar de distância. Depois contarei mais sobre isso.
Peter, ah, meu querido Peter. Deixe sua angustia de lado e retome aquele sorriso amarelado que só você pode exibir. Eu jamais cansaria de você!
Sei que você ainda é o menino de cabelo amarelado que conheci na escola, naquela tarde quente e cheia de mosquitos. Eu sei que você lembra das balas de caramelo que roubamos daquele supermercado. Você também se recorda dos nossos banhos de rio, e de todas as noites que ficamos admirando as estrelas, não é? Tenho saudade de sentir seu hálito quente, de ter seus grandes olhos verdes encarando os meus, e principalmente, de sentir suas macias mãozinhas acariciando minhas bochechas.
Peter, mais uma vez peço desculpas! Foi inevitável. Fui obrigada a correr atrás de meus sonhos. Agora estou morando em um porão de um bairro imundo de Paris. Pintei meu cabelo de vermelho (não me repreenda, eu sei que você gostava dos cabelos negros que eu exibia, mas sempre sonhei com cabelos cor de fogo). Arrumei um emprego numa lanchonete que fica no centro da cidade. Na verdade arrumei dois empregos. Lembra do curso de violão que eu fiz quando tinha 16 anos? Agora estou fazendo bom proveito dele. Toda sexta-feira, por volta das 23h00, eu vou para um bar, tocar minhas canções. Já tenho três delas! Uma garota chamada Marie me ajudou a compor. Conheci a Marie, que tem cabelos pretos e descendência japonesa, na lanchonete. Ela também trabalha lá, e tem um carro amarelo – parecido com uma daquelas velharias que você adora. Toda noite ela me leva para casa. Juro por Deus que não sei o que seria de mim sem ela! As ruas desertas dos subúrbios de Paris me causam arrepio quando anoitece.
Querido Peter, espero que me perdoe e que me entenda. Você sabe o quanto eu te amo, meu pequeno! Nunca esquecerei dos momentos que compartilhamos. Eu lhe juro, que quando conseguir um pouco de dinheiro pagarei uma passagem que te leve até mim, e juntos caminharemos felizes pelas ruas de Paris. Até lá, espero que possamos nos comunicar através de cartas – eu sei o quanto você gosta delas.

Um beijo, um abraço e muito afeto. Samantha.

5 comentários:

Rogério Vasconcelos disse...

Adorei! Me fez lembrar um exercício do curso de desenho que eu fiz há algumas semanas atrás, aonde a gente tinha que criar uma carta contando alguma história, e detalhando cenário, personagens, etc... pra depois a gente desenhar. Não cheguei a desenhar (tive que faltar o curso pra estudar pros testes na escola), mas foi divertido de fazer a carta. Foi divertido pra você fazê-la também?

Nasaneeds. disse...

Samantha: eis aqui uma personagem corajosa. Achei o texto encantador, mesmo sendo o primeiro. E adorei o Peter. Que tal uma carta dele em resposta agora?

Harriet disse...

Que linda e sincera carta.Gostaria de ter uma pessoa tão adorável como o Peter,ou receber uma carta tão bela como a da Samantha.
Belo texto.Belas palavras.

@likealovegood disse...

Minha Lisie. Que orgulho.

(Percebi muitos fatos por trás desse texto, é verdade. Você e a sua história brilhavam em cada linha, como o sol sobre o rio que corta Molching)

Marina disse...

Eu disse que só poderia esperar coisas boas vindo de você!
Essa carta está fantástica e adorei cada elemento da vida de Samantha em Paris, e de sua vida com Peter, algum tempo atrás. Eu estou imaginando Peter lendo e sorrindo, lendo a carta.
Lisie, está tudo ótimo.