domingo, 23 de janeiro de 2011

Ás de ouro.



Eu não poderia falar de outra coisa. Seria um crime passar por aqui depois de tanto tempo e não citar o que fez meus olhos brilharem e minha mente ansiar pelas páginas de um livro muito mais do que ela anseia. 

Certa vez me disseram que ler não é abrir um livro e percorrer seus olhos pelas letras ali escritas. Ler é muito mais do que isso. Livros fazem muito mais do que te salvar de uma realidade catastrófica, livros te proporcionam asas e te ensinam a voar.

"Não importa se você é gordo, magro, feio, idiota, sem graça, antissocial, social demais, bobo alegre, um pouco autista, surdo, mudo, chato, enfim, nada disso importa. Os livros vão te amar e clamar por você no instante em que você os abre."

Saindo da melancolia barata, eu só queria compartilhar com vocês uma das melhores coisas que entraram na minha vida nesses últimos meses, ou anos. Um taxista. Palavrões demasiados. Um cachorro. Um grupo de amigos. Um vários, para ser sincera ás de ouro. Uma missão. Senhores e senhoras, eu vos apresento Eu sou o Mensageiro. Estrelando Ed Kennedy, Audrey, Marv, Ritchie e Porteiro. E por trás de tudo isso temos, ninguém mais, ninguém menos que Markus Zusak. 
Para ser bem sincera, vou lhes dizer que não ler um livro desse calibre é um crime.


"Já anoiteceu, nós três — Audrey, eu e Porteiro — tomamos um cafezinho na varanda. Ele sorri pra mim quando termina e cai no seu sono tranqüilo de sempre, perto da porta. A cafeína não faz mais efeito nele. Os dedos da Audrey se seguram aos meus, a luz permanece acesa um pouco mais, e ouço de novo as palavras que ouvi hoje de manhã. 
"Se um cara como você consegue fazer o que você fez, talvez todo mundo consiga. Talvez todos possam superar seus próprios limites de capacidade." 
E é aí que a ficha cai. Em um belo, doce e cruel momento de clareza, eu sorrio, olho pra uma rachadura no cimento e digo pra Audrey e pro Porteiro adormecido. Digo o que estou lhe dizendo: 

Eu não sou o mensageiro. Eu sou a mensagem."

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Peter, ah, meu querido Peter.



3 de julho de 2006, Paris, França.

Querido Peter,

Escrevo-lhe, marejando de lágrimas essa folha retirada de um caderno velho – aquele cheio de flores azuis, que por sinal, ganhei de você, como presente de aniversário do ano passado –, para dizer que estou com saudade.
Desculpe-me. Desculpe-me por não enviar notícias e nem porquês. Por favor, desculpe-me por não lhe avisar. Sei que você deve ter pensado que cansei de você e fugi para bem longe. Claro que você está enganado. Bom, a parte do longe não deixa de ser mentira, afinal, nesse exato momento estou a um mar de distância. Depois contarei mais sobre isso.
Peter, ah, meu querido Peter. Deixe sua angustia de lado e retome aquele sorriso amarelado que só você pode exibir. Eu jamais cansaria de você!
Sei que você ainda é o menino de cabelo amarelado que conheci na escola, naquela tarde quente e cheia de mosquitos. Eu sei que você lembra das balas de caramelo que roubamos daquele supermercado. Você também se recorda dos nossos banhos de rio, e de todas as noites que ficamos admirando as estrelas, não é? Tenho saudade de sentir seu hálito quente, de ter seus grandes olhos verdes encarando os meus, e principalmente, de sentir suas macias mãozinhas acariciando minhas bochechas.
Peter, mais uma vez peço desculpas! Foi inevitável. Fui obrigada a correr atrás de meus sonhos. Agora estou morando em um porão de um bairro imundo de Paris. Pintei meu cabelo de vermelho (não me repreenda, eu sei que você gostava dos cabelos negros que eu exibia, mas sempre sonhei com cabelos cor de fogo). Arrumei um emprego numa lanchonete que fica no centro da cidade. Na verdade arrumei dois empregos. Lembra do curso de violão que eu fiz quando tinha 16 anos? Agora estou fazendo bom proveito dele. Toda sexta-feira, por volta das 23h00, eu vou para um bar, tocar minhas canções. Já tenho três delas! Uma garota chamada Marie me ajudou a compor. Conheci a Marie, que tem cabelos pretos e descendência japonesa, na lanchonete. Ela também trabalha lá, e tem um carro amarelo – parecido com uma daquelas velharias que você adora. Toda noite ela me leva para casa. Juro por Deus que não sei o que seria de mim sem ela! As ruas desertas dos subúrbios de Paris me causam arrepio quando anoitece.
Querido Peter, espero que me perdoe e que me entenda. Você sabe o quanto eu te amo, meu pequeno! Nunca esquecerei dos momentos que compartilhamos. Eu lhe juro, que quando conseguir um pouco de dinheiro pagarei uma passagem que te leve até mim, e juntos caminharemos felizes pelas ruas de Paris. Até lá, espero que possamos nos comunicar através de cartas – eu sei o quanto você gosta delas.

Um beijo, um abraço e muito afeto. Samantha.